Diz-se que Edgar Degas terá afirmado que era preciso copiar os mestres para se ser pintor, para a educação do olhar e a mestria da técnica. Copiar os mestres seria uma forma de reverência ou, então, como em lendárias intrigas de falsificações, de alimentar um voraz mercado da arte. O caso mais audaz da utilização da cópia na história da arte recente é, provavelmente, o de Richard Pettibone, que copiou, em miniatura, obras de artistas muito próximos no tempo - por exemplo, a Brillo Box de Andy Warhol, produzida por este artista em 1964 e copiada por Pettibone em 1969. Na sua obra, José Almeida Pereira apropria-se tanto de iconografias gráficas (logótipos de marcas, por exemplo) como de pinturas famosas para efectivar uma espécie de aprendizagem de códigos da visão, desmontando-a. Estas pinturas não são exactamente cópias e não passariam por falsificações - trazem coladas referências muito claras a obras famosas, transportando-as para outra temporalidade do olhar. A construção técnica destas pinturas é de somenos importância porque sabemos que o artista a domina; o que nelas importa é a deslocalização do olhar sobre a história, a afirmação de que é sempre a partir do presente que vemos o passado, e vemo-lo, agora, assente numa cultura retiniana processada pela tecnologia
Ana Anacleto e Gabriela Vaz-Pinheiro
Catálogo da exposição - Quote/unquote - editado pelo MAAT, Fundação EDP, 2017